quinta-feira, 30 de junho de 2011

O Mito do Amor Romântico

“Sempre que falamos em mito do amor romântico estamos evocando um inconsciente coletivo fortemente influenciado pela interpretação deste mito a respeito das relações amorosas. Mitos são estórias contadas, contos de fadas fascinantes, tudo construído para tentar ilustrar o profundo psicológico de um povo que precisa resolver suas carências e necessidades. O amor e seus personagens fascinantes protagonizam aquilo que a humanidade gostaria de experimentar na carne real da existência. Elas evocam o sonho que o ser humano tem de protagonizar uma história de amor perfeito, com o final: e viveram felizes para sempre.

A vida real não corresponde aos relatos dos contos de fadas e nem com a indestrutibilidade e vitória conquistada pelos super heróis das estórias em quadrinhos - que sonhávamos nos tornar quando éramos crianças.

O processo humano é doloroso. O sonho que sonhamos deve estar sempre preso à realidade, considerando nossos limites (positivos para o crescimento humano).

Quanto maior a negação de nossos limites e nossas fragilidades (que nos são próprios), maior parece ser o domínio que eles exercem sobre nós. Acolher os seus limites é um jeito de conciliar-se consigo mesmo.

Um dos elementos que acena para nosso amadurecimento como pessoa é justamente nossa capacidade de enfrentar a realidade sem as facilidades das fugas!

É claro que a vida não é possível sem sonhos. O importante é estabelecermos o limite entre aquilo que projetamos (sonhamos) e aquilo que podemos esperar de nós mesmos.

Sair do contexto de heróis requer esforço. Olhar para si e reconhecer que mesmo sem asas será possível alcançar sucesso na vida é uma transposição considerável.

Toda vez que recusamos os limites de nossa condição e nos imaginamos como heróis invencíveis, de alguma forma estammos desfazendo o equilíbrio que pode nos fazer crescer. A mesma coisa acontece nas relações. por uma insatisfação pessoal, projetamos nos outro uma perfeição que gostaríamos de encontrar em nós mesmos.

No momento em que identificamos essa inadequação, no instante em que percebemos que o outro não é perfeito, desfaz-se o encanto. Os finais felizes dos contos de fadas são registros no inconsciente coletivo que asseguram a desilusão constante na vida real. A Cinderela volta a ser gata borralheira, o príncipe volta a ser sapo, e o que dizíamos ser experiência de amor eterno se transforma em amor que valeu enquanto durou.

Amar não é cultivo de perfeição. É empenho de superação de limites. É cultivo constante que nos aproxima da realidade e que nos capacita para continuarmos desejando que o outro continue ao nosso lado.

Amores perfeitos só existem nas projeções, nos sonhos, nos contos de fadas. É o mito do amor romântico.”

Trechos do maravilhoso, profundo e fascinante livro do Padre Fábio de Melo: “Quem me roubou de mim”.