sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

A PAIXÃO É UM VÍCIO

Por Marcela Buscato
A antropóloga da Universidade Rutgers, especialista em cérebros apaixonados, explica a semelhança entre se apaixonar e consumir drogas
ÉPOCA – Por que a paixão é um vício?
Helen Fisher – Quando eu e meus colegas colocamos 32 pessoas que estavam enlouquecidamente apaixonadas em um equipamento de ressonância magnética, nós descobrimos atividade cerebral em uma região que também se torna ativa quando você sente o “barato” da cocaína. A droga ativa alguns dos mesmos circuitos do cérebro associados à paixão. Por isso, eu acredito que ela é um vício muito poderoso.
ÉPOCA – É um vício que faz mal?
Helen – Se não for uma relação saudável ou se alguém for rejeitado, sim. Depois de tantos estudos, os pesquisadores sabem que o sofrimento de uma pessoa rejeitada é fisiológico. Os circuitos cerebrais relacionados à tomada de decisões arriscadas e, inclusive, os ligados à dor física tornam-se ativos. Hoje, levamos a dor da paixão a sério.
ÉPOCA – Já se sabe como reverter a química da paixão para impedir o sofrimento?
Helen – É preciso “matar” essa obsessão. Jogar fora cartas e cartões, não ficar estirado na cama pensando na pessoa. Tudo isso só vai estimular os mesmos circuitos cerebrais da paixão. Faça coisas novas e excitantes com pessoas diferentes para elevar de outra maneira o nível de dopamina, uma substância estimulada pela paixão. Ria porque o riso estimula as terminações nervosas de sua face, e isso também estimula o sistema dopaminérgico. Mas a paixão não é só dor. Ela também pode fazer muito bem.
ÉPOCA – Como?
Helen – Ela aumenta os níveis de dopamina, que é um estimulante natural. Por isso, as pessoas se tornam mais entusiasmadas e otimistas. Também fazem mais sexo – o que é bom para músculos, pele e fôlego. Mas esse estágio inicial não foi feito para durar para sempre. A função dele é focarmos energia na conquista de um companheiro.
ÉPOCA – É possível “prolongar” a paixão?
Helen – Uma estratégia é fazer coisas novas juntos: tirar férias, viajar para lugares desconhecidos, fazer sexo em locais diferentes. A novidade estimula o sistema da dopamina no cérebro e ajuda a manter o romance excitante. Mas a melhor maneira para que a paixão dure por muito tempo é escolher a pessoa certa.
ÉPOCA – Como acertar na escolha?
Helen – O parceiro precisa se encaixar no perfil que idealizamos. São pessoas com um tipo de beleza parecido com o nosso, com valores semelhantes e com o mesmo nível socioeconômico. Também precisa haver certo mistério. Não podemos saber tudo sobre a pessoa, porque esse mistério impulsiona a ação da dopamina. Mas eu acredito que nós nos apaixonamos principalmente por pessoas geneticamente compatíveis.
ÉPOCA – Por quê?
Helen – Cada tipo de personalidade está ligada a uma maior atividade de determinado sistema biológico. E parece que somos atraídos por parceiros com uma personalidade diversa a nossa, ou seja, geneticamente diferentes. Essa combinação estimula a química da paixão no cérebro e faz com que ela continue em ação por anos e anos.
ÉPOCA – Quais são esses tipos de personalidade genética?
Helen – Eu divido em quatro categorias. Os exploradores têm maior atividade no sistema de dopamina, um neurotransmissor estimulante. Os construtores, no sistema de serotonina, que é calmante. Os negociadores apresentam maior atividade no sistema de estrogênio, um hormônio ligado a uma postura controladora. E os diretores têm maior atividade no sistema de testosterona, hormônio associado a comportamentos mais agressivos.
ÉPOCA – Como identificar qual é nosso tipo genético e de um possível parceiro?
Helen – Os exploradores são pessoas curiosas, criativas, espontâneas, irreverentes, que gostam de correr riscos e procuram novidades. Os construtores tendem a ser calmos, sociáveis, populares, tradicionais. Cautelosos, mas não medrosos. Já os negociadores são muito bons em se expressar verbalmente, têm grande habilidade para lidar com as pessoas, são muito empáticos. Tendem a ser bons para fazer planejamento de longo prazo. Os dominadores são bons para lidar com sistemas com regras, tendem a ser lógicos. Mas não há uma combinação ideal entre esses tipos de personalidade. Cada uma terá suas vantagens e problemas.
ÉPOCA – Seus estudos ensinaram a senhora a controlar a paixão?
Helen – Eu me casei com 23 anos e me separei poucos meses depois. Tive quatro relacionamentos muito longos e muito satisfatórios. Eu sei um bocado de coisas sobre a paixão, mas sou como qualquer outro tolo quando estou apaixonada.

Como recuperar a autoestima após o fim da relação

Descobri que ele me traía e fiquei péssima. Só melhorei depois de ler dicas em um site na internet
Eu aprendi que devemos focar no que temos de bom no corpo e não nos defeitos
Depois de 12 anos de namoro, o Lucas passou a dar desculpas pra não me ver. Ele dizia que estava deprimido e que se sentia mal por eu pagar tudo quando a gente saía. Mas eu só comecei a desconfiar de traição quando vi recados no Orkut de uma aluna do cursinho em que ele dava aula. Ele garantia que não tinha nada a ver.
Com aquele desprezo, fui me afundando na falta de amor próprio. Os meus 50 kg do início do namoro se transformaram em 72 kg! Sem vida social, eu descontava minhas frustrações na comida. Devorava uma barra de chocolate todas as noites.
O problema é que esse desânimo começou a refletir no meu trabalho. Em abril de 2009, meu chefe disse que eu tinha me tornado uma pessoa amarga. Como gerente de um grupo de franquias de uma marca de cosméticos, o bom relacionamento com a equipe era fundamental. Eu tinha que mudar minha atitude ou seria demitida.
Foi nessa situação que, em maio do ano passado, resolvi buscar ajuda na internet. Entrei em um site de busca e digitei ”autoestima”. O primeiro resultado foi o blog da escritora Gisela Rao, o Vigilantes da Autoestima. Fiquei impressionada: ela falava pra mim! Passei a ler todos os dias, sempre depois do trabalho.
Sobre o blog ”Vigilantes da Autoestima”
A Gisela falava sobre como nós, mulheres, nos colocamos na posição de coitadinhas, implorando a aceitação dos parceiros. Eu também reprimia minhas vontades pra agradar o meu homem. É que eu achava que poderia recuperar a alegria do começo do namoro. Recomendo a todas o blog que me levantou. O endereço é: http://vigilantesdaautoestima.zip.net
Flagra humilhante
Eu já pressentia o pior quando, em outubro do ano passado, a tal aluna do meu namorado ligou no meu celular: ”Pare de procurar o Lucas, ele é meu namorado há quatro meses. Se quiser conferir, apareça hoje lá em casa”. Eu fui. E ele estava lá! Fiquei tão chocada que demorou uns minutos para minhas pernas responderem e eu dar o fora dali, humilhada, sendo chamada de neurótica por ele.
Eu assumia as contas dele!
Eu era uma mãe para o Lucas: pagava as contas dele, colocava gasolina no carro e até comprava roupas! E ele nunca tinha dinheiro pra me dar presentes ou me levar pra sair. Na verdade, um bilhetinho ou um bombom já me deixariam feliz.
Nosso relacionamento começou a piorar quando fui promovida em 2006. Ele dizia que eu só pensava no trabalho e me deixava sozinha pra viajar. Lucas não entendia que eu não podia abandonar os compromissos do cargo de gerente.
Passei a realçar o que tinha de melhor
Na noite do flagra, ele ligou pedindo desculpas. Disse que só tinha ficado com ela aquela vez e que havia se descontrolado. Resolvi parar de atender suas ligações. Aí, ele foi no meu trabalho, chorou e pediu perdão. Meu coração amoleceu, mas não durou muito. Depois do expediente, no mesmo dia vi o safado com a aluna num barzinho. Aí, encarei a realidade e decidi não procurá-lo nem permitir que ele se aproximasse de mim.
Nessa fase, o blog da Gisela foi determinante. Pra ser mais precisa, o post 133, que falava sobre realçar o que temos de bom no corpo e não focar nos defeitos. Me olhei no espelho e percebi que gosto dos meus olhos, do meu sorriso e cabelos. Passei a valorizar meus pontos fortes.
Fiz amigos e hoje viajo, danço, vivo!
Consegui tirar da minha vida o que me fazia infeliz! É como diz a Gisela: ”Não precisamos disso!”. Depois dessa virada, fiquei conhecida no salão por sempre fazer pedicure, manicure, escova, massagem… Sem contar que aposentei o pijama no fim de semana e comecei a investir na minha imagem.
No dia 31 de dezembro, a Gisela escreveu: ”Feche um ciclo para abrir um novo”. Fui então para o Rio de Janeiro passar meu primeiro Réveillon à beira-mar. Em Copacabana, fiz um minirritual. Abri um buraco na areia e pensei: ”Aqui está enterrada a Denise que se sente menor do que os outros”. À meia-noite, me propus uma nova vida.
Percebi que sorrir atrai as pessoas. A Gisela me ensinou a não rejeitar elogios. Em vez de dizer ”São seus olhos”, eu agradeço. E mais: fiz amigos, comprei meu carro, viajo, saio e danço muito! Aos 30 anos, cheguei em casa com o dia amanhecendo pela primeira vez. Se meu ex sabe disso tudo? Não me importa. Não fiquei bonita pra me vingar. Fiz por mim! Eu sou meu amor eterno.
As mulheres precisam se valorizar
A escritora e publicitária Gisela Rao fundou o programa Vigilantes da Autoestima (VAE) em 2000, no prédio em que morava. Tudo começou porque uma vizinha dela estava muito triste com o fim de um relacionamento. Então, durante dois anos, um grupo de oito mulheres se reuniu para ouvir umas às outras e tentar buscar saídas para a vida.
Com o boom dos blogs, Gisela resolveu levar o VAE para a internet, com a parceria da psicóloga Neiva Bohnenberger. Há apenas nove meses no ar, o site já recebeu mais de 400 mil visitas e 5 mil comentários. Com o slogan ”Atitudes que transformam sua vida”, Gisela mostra como ela própria lida com suas imperfeições de forma positiva.
No site, ela afirma que 80% dos problemas de baixa autoestima desapareceriam se as mulheres parassem de se depreciar.
Fonte: http://mdemulher.abril.com.br/estilo-de-vida/como-recuperar-a-autoestima-apos-o-fim-da-relacao/

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

VICIADAS EM PAIXÃO

Por Florbela Espanca
Existem mulheres que não conseguem ficar sozinhas... Você é uma delas?
"Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!"
Ai, a paixão! Quem nunca ficou à mercê deste sentimento que espalha calafrios pelo corpo e faz o coração palpitar mais forte? Segundo os neurocientistas, o organismo dos apaixonados produz grandes doses anfetaminas naturais como dopamina, norepinefrina e feniletilamina. São elas as responsáveis pela euforia típica que tira os nossos pés do chão, mas também podem causar dependência. Isso explica o comportamento das pessoas incapazes de relacionamentos amorosos duradouros, sempre à procura de novas aventuras, que saltam de um parceiro para o outro. Elas são viciadas em paixão.
Você sabia que o vício de paixão está ligado ao vício de adrenalina? As pessoas dependentes de paixão "amam" essa sensação provocada pela adrenalina no corpo. Elas gostam da sensação de gostar, de apaixonar-se
A paixão é um estado alterado da consciência e pode ser bastante perturbador. O nível do sentimento pode chegar a um estágio que dizemos ser patológico, ou seja, doentio
Para a antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Mirian Goldenberg, esta busca ininterrupta pela paixão faz parte de toda mulher. "De certa forma, todas nós somos viciadas em paixão, somos educadas para acreditar que é possível viver permanentemente apaixonadas e queremos isso. Somos educadas pelas novelas, filmes e romances a acreditar na paixão. Mas, na vida real, ela dura pouco com o mesmo parceiro. Assim, buscamos novas paixões, acreditando que elas podem durar. Não duram e o processo continua", explica.
Mirian diz, ainda, que este é um sintoma do comportamento contemporâneo. "O vício pela paixão é um fenômeno cultural e se torna um imperativo na sociedade moderna que valoriza o novo, a aventura e as experiências intensas". Já para a psicóloga Ana Cristina Calil, na maioria das vezes, este comportamento pode ser uma forma de não querer lidar com a dor. "As pessoas estão cada vez mais reativas, com medo de se relacionar. A troca de parceiros aponta para o medo de sofrer, de amar, como se houvesse uma correlação entre os dois", afirma a especialista.
E o pior: este temor é inconsciente. "Estas pessoas nem sempre reconhecem o medo. Ele está encoberto. As pessoas agem sem pensar. É uma forma de proteção", garante Ana Cristina. A psicóloga Clarissa Fernandes também chama atenção para as frustrações do passado. "Falhas na formação emocional básica do indivíduo, em especial na capacidade de suportar frustrações, podem ser a causa deste comportamento apresentado por algumas pessoas", esclarece.
Clarissa ainda alerta para os perigos da paixão. "A paixão é um estado alterado da consciência e pode ser bastante perturbador. O nível do sentimento pode chegar a um estágio que dizemos ser patológico, ou seja, doentio", adverte.
Vamos, então, usar duas nomenclaturas para diferenciar os tipos de paixão: a "paixão doentia" não evolui para o amor, pois se trata de um sentimento provocado por carências e dificuldades emocionais do indivíduo. Já a "paixão normal" é o enamoramento, que pode (ou não) evoluir para um amor maduro, saudável e duradouro. Este tipo de paixão é um sentimento agradável, que traz a sensação de felicidade.
Como dá para perceber, quando a paixão não é patológica, ela é positiva. Não há mal algum em ter um coração volátil, estar bem resolvida e querer alguém para dar uns beijos na boca, curtir a vida e - quem sabe? - deixar a porta aberta para o amor. Mas, para isso, a auto-estima deve estar lá em cima.
Segundo uma pesquisa feita pela professora Cindy Hazan, da Universidade Cornell de Nova York, as substâncias que controlam este sentimento são encontradas juntas no corpo humano apenas durante as fases iniciais do flerte. Com o tempo, o organismo vai se tornando resistente aos seus efeitos, e toda a loucura e a atração vão sumindo. O casal, então, se vê frente a uma dicotomia: ou se separa ou habitua-se a manifestações mais brandas de amor - companheirismo, afeto e tolerância -, permanecendo junto.