sábado, 10 de setembro de 2022

A paixão é um vício? 2/3

Por Maurício Hasbeni de Melo.
Helen Fischer declara que quando estamos começando paixão por alguém, exibimos atividade elétrica intensa em certas regiões do cérebro. Essas mesmas partes cerebrais estão associadas ao uso de drogas e a comportamentos sugestivos de vício.
Como assim? Quem é Helen Fischer? E por que eu, que me sinto apaixonada, devo achar que a paixão tem alguma coisa de negativo? Como o cérebro entende a paixão?
Existem áreas no nosso cérebro que, quando estamos apaixonados, respondem ativamente a estímulos associados a essa circunstância. Exemplo de um bom estímulo? Olhar a foto do amado. Foi com testes simples como esse que a pesquisadora Helen Fischer, da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, comprovou isso. Ela e outros cientistas usaram equipamentos de ressonância magnética em 17 homens e mulheres que se diziam apaixonados. Eles notaram mudanças em regiões cerebrais dessas pessoas. Em 2016 o grupo de pesquisadores publicou um artigo no qual perguntam: a paixão é um vício que evoluiu naturalmente entre os humanos? A paixão é mesmo um vício? Ao propor um sim para essa resposta, os pesquisadores tomaram como base comportamentos que os apaixonados mostram. Segundo os cientistas, tais comportamentos se parecem bastante com os que viciados exibem. Em relação ao alvo da paixão, os apaixonados: • mantêm um foco obsessivo; • buscam incessantemente a pessoa, inventando subterfúgios para estar com ela; • mostram euforia quando encontram ou pensam no objeto da paixão; • procuram estar com a pessoa amada mais e mais com o desenvolvimento da relação; • caso o alvo da paixão se afasta, o apaixonado mostra sinais típicos de alguém sob abstinência de drogas, como reclamação (muitas vezes acompanhada de lágrimas), ansiedade, insônia, falta de apetite; • muito semelhante aos viciados, os que se veem rejeitados podem tomar atitudes extremas, como se colocar em perigo. Se estar apaixonada é tão ruim, nem deveria existir Agora veja que nem tudo é só negativo. A paixão traz benefícios, ainda que ligada à ideia de compulsão, de desequilíbrio. Esses benefícios promoveram a permanência desse tipo vínculo entre duas pessoas ao longo da evolução dos humanos. Somos dotados de um circuito neural que nos impulsiona a procurar um par. Tudo indica que a ligação em pares nos humanos primitivos aumentava a chance de sobrevivência de bebês e de crianças produzidas pelo casal. Filhos protegidos por pares de humanos em laços “bem apertados” durante meses tinham mais chances de crescerem fortes, competitivos. Quem sabe seriam bons em liderar outras pessoas, chegarem à vida adulta e terem filhos também? Resulta que, apesar de todo o avanço tecnológico, quando chega a hora de se apaixonar, nossas estruturas mentais nos engessam em uma condição ancestral. Positivamente viciada Enfim, Fischer acredita que a paixão é um vício poderoso. Obviamente, se estar envolvida com alguém leva a sofrimento [link para artigo 3], use a força da paixão para renascer. Mas uma paixão saudável traz otimismo. Isso porque o nível de dopamina, um neurotransmissor, permanece alto. Então, estar apaixonada te leva a querer realizar coisas novas junto com quem você se sente bem. Realizações que reforçam mais ainda o relacionamento. A paixão é poderosa mesmo, não?

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